Os diferentes estudos já realizados neste âmbito e de dados colhidos na área da surdez, pode-se sistematizar algumas das principais características da escrita, valendo da análise de diversos textos de alunos surdos, em diferentes níveis de escolarização. Exemplificando casos mais comuns, considerados problemáticos nas produções escritas:
ORTOGRAFIA: geralmente, a escrita dos surdos apresenta boa incorporação das regras ortográficas, facilitada por sua excelente capacidade visual para memorização das palavras, exceto nas questões de acentuação – que dependem do domínio da tonicidade à oralidade (entonação, ritmo, fluxo da fala, etc.), ambos os processos dependentes da audição. O que poderá acontecer é que, por memorizar as palavras em sua globalidade e não a partir de sua estrutura fonética, aconteçam trocas nas posições das letras, tais como:
ARTIGOS: são omitidos ou utilizados inadequadamente, uma vez que os mesmos não existem em Libras. Como a utilização do artigo pressupõe o conhecimento de gênero (masculino/feminino) por parte do falante, para os surdos não é necessário.Isso se deve ao fato de a Libras dispensar o uso de artigos.
Ex; Índio parece o fome sempre sofre é cuidado não arroz tenho água só seco medo sempre dia quente ficar triste.
( Índios sofre com fome, sem arroz e tem medo dos dias seco e quentes.)
Elementos de ligação (preposições, conjunções, pronomes relativos, entre outros) são ausência comum nas produções dos surdos, uma vez que são inexistentes em Libras:
A Gabriela chorar fugir cachorro. ( Gabriela está chorando porque o cachorro fugiu.)
Eu falo você precisa muito trabalho. ( Você precisa de muito trabalho.)
GÊNERO (masculino/feminino)
GÊNERO (masculino/feminino)
NÚMERO (singular/plural): a ausência de desinência para gênero e número em Libras é um dos aspectos evidentes da interferência da Língua de Sinais na escrita, pois a concordância nominal inadequada é um fato constante nas construções textuais.
A minha mamãe faz uma bolo chocolate bom. ( Minha um bolo de chocolate gostoso.)
VERBOS: configuram uma situação interessante, pois, uma vez que se apresentam sem flexão de tempo, modo e pessoa na Libras, isso causa interferência significativa na escrita. Por decorrência desta falta de flexão, há uma tendência de os surdos apresentarem os verbos em sua forma infinitiva na escrita, como é o caso dos exemplos abaixo:
As índias bonitas a nadar mergulhou. ( As índias bonitas nadam e mergulham.)
Naiá viu transformar cor rosadas.( Naiá está com a cor rosada.)
VERBOS DE LIGAÇÃO: em relação à omissão freqüente dos verbos (ser, estar, ficar, etc.), isto se deve à prevalência da estrutura gramatical da Libras, na qual o uso do verbo de ligação é inexistente, fazendo com que ocorram em português construções atípicas, geralmente interpretadas como enunciados telegráficos, tais como:
VERBOS DE LIGAÇÃO: em relação à omissão freqüente dos verbos (ser, estar, ficar, etc.), isto se deve à prevalência da estrutura gramatical da Libras, na qual o uso do verbo de ligação é inexistente, fazendo com que ocorram em português construções atípicas, geralmente interpretadas como enunciados telegráficos, tais como:
Eu casado pé no calor (Eu estou cansada de andar a pé neste calor.)
FLEXÃO DE TEMPO: na Libras, o tempo é expresso através de relações espaciais: passado – para trás, futuro – para frente e presente – no espaço imediatamente à frente do corpo do locutor. Como tais noções são representadas por sinais diferentes do verbo ( antes, agora, hoje, amanhã, quinta-feira, domingo próximo, ano passado, ou mais genericamente,FUTURO, PASSADO, DEPOIS), podem manifestar-se na escrita, basicamente, em duas situações:
FLEXÃO DE TEMPO: na Libras, o tempo é expresso através de relações espaciais: passado – para trás, futuro – para frente e presente – no espaço imediatamente à frente do corpo do locutor. Como tais noções são representadas por sinais diferentes do verbo ( antes, agora, hoje, amanhã, quinta-feira, domingo próximo, ano passado, ou mais genericamente,FUTURO, PASSADO, DEPOIS), podem manifestar-se na escrita, basicamente, em duas situações:
através de enunciados que refletem essas noções exatamente como na Libras:
Eu já mais 1 ano sempre viajou passado porque não sei vontade.
(Eu viajei há um ano, porque tive vontade.)
através de enunciados que provavelmente por interferência do trabalho escolar, manifestam a necessidade de uma diferenciação no verbo, embora sem a flexão correta, construídas de modo aleatório:
Eu viu muito rio. ( Eu vi o rio.)
Eu simples tem casa grande normal. ( Eu tenho casa grande e simples.)
ORGANIZAÇÃO SINTÁTICA: em relação à organização sintática, os enunciados são geralmente curtos, com poucas orações subordinadas ou coordenadas. A estrutura aplicada dependerá do contexto, alterando a ordem comum, a fim de garantir a ênfase necessária aquilo que se quer destacar. Isto se dá porque na Libras, embora a organização sintática básica seja SVO (sujeito-verbo-objeto), a depender das relações de sentido a serem estabelecidas, podem ocorrer diferenças, tais como OSV e OVS.
Ex: OSV - Curitiba boa passear vi (Eu vi que é bom passear em Curitiba.)
Ex: OSV - Curitiba boa passear vi (Eu vi que é bom passear em Curitiba.)
Ex:OVS - O futebol joga Barisl. ( Jogar futebol é no Brasil.)
Ex: SVO - Ronaldinho torcer o Brasil. ( Ronaldinho é torcedor do Brasil.)
NEGAÇÃO: outro aspecto referente à ordem das palavras extremamente peculiar na Libras diz respeito à negação, que pode se dar, em algumas situações, ocorrendo após a forma verbal.
NEGAÇÃO: outro aspecto referente à ordem das palavras extremamente peculiar na Libras diz respeito à negação, que pode se dar, em algumas situações, ocorrendo após a forma verbal.
Preciso falar não você. ( Não preciso falar com você.)
Vasco joga não medo Flamengo. ( Vasco não tem medo do Flamengo.)
Para a autora, a intenção dessa análise é que, ao se deparar com um texto elaborado por uma pessoa surda, mantenha uma atitude diferenciada que não parta das aparentes limitações iniciais apresentadas, mas das possibilidades que as especificidades dessa construção contempla; que não busque o desvio da normalidade, mas as marcas implícitas e explícitas da diferença lingüística subjacente. Os ‘erros’ que estudantes surdos cometem ao escrever devem ser encarados como decorrentes da aprendizagem de uma segunda língua, ou seja, o resultado da interferência da sua primeira língua e a sobreposição das regras da língua que está aprendendo. A falta de conhecimento em relação ao que realmente acontece nas produções escritas dos surdos pode levar a atos extremos de arbitrariedade, crueldade e marginalização dos alunos no contexto escolar. Colocar em prática critérios diferenciados de avaliação na escola significa reconhecer e respeitar a diferença lingüística dos alunos surdos.
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